Olavo, os militares e os Bolsonaro: o circo nosso de cada dia

Tive a paciência e o estômago para ver a entrevista que Olavo de Carvalho deu a Pedro Bial. Praticamente minha estreia com ele. Nesta, até pousou de razoável comparado às escatologias que povoam suas postagens nas redes sociais. Aliás, coisa fácil diante do entrevistador chapa branca que não fez outra coisa que deixá-lo à vontade, reverenciando-o.
É vaidoso, mas é principalmente alguém que convence os outros daquilo em que nem ele acredita. Ele está ali só surfando numa onda internacional de recrudescimento de ideias fascistas. Essa onda provavelmente ganhou o mundo a partir da guerra da Bósnia, em 1992. Mas se proclama filósofo, disse que escreve livros pros próximos séculos, milênios até. Um Aristóteles. Ele não me convenceu de que está convencido disso. Pelo contrário, me pareceu que ele sabe bem que é uma fraude. É louco mas não rasga dinheiro. Suspeito que nasça daí, além da necessidade de pagar as contas, a lógica de fundar uma seita, os olavetes.
Mas que seita seria essa? Claramente Olavo de Carvalho não tem nenhuma originalidade, uma vez que as ideias que ele propaga são mera reciclagem tupiniquim da direita americana, misturando-as com o baixo calão que lhe é característico. Para certa direita brasileira, ele é uma espécie de bálsamo intelectual, por assim dizer. Sem desviar um centímetro do senso comum que partilha, se imagina envernizada pelo auto declarado “pensador”. Não precisa se dar ao trabalho de ler os liberais (ai que coisa chata de gente chata esse negócio de ler livro, né). Repete a meia dúzia de chavões que aprende com ele e se sente não apenas autorizada, mas ainda irreverente. Quem não quer ser irreverente e descolado mesmo posando ao lado de ideias retrógradas? O velhinho, ora veja só, é tão cool. Além de falar de cu a cada 5 palavras, ainda nos brindou com a expressão “marxismo cultural”. Tão mais sofisticada e misteriosa que comunismo… Assim dá até pra entrar numa discussão.
Para os filhos de Bolsonaro, ele é um passaporte para figurar no rol da direita internacional. Sendo praticamente presidentes adjuntos do Brasil, poderiam prescindir dele, mas obviamente não se sentem seguros para caminhar sozinhos neste pântano. Olavo segura na mão deles. Antes que a esquerda dissesse, eles já sabiam que o bom é ninguém soltar a mão de ninguém. A tríade é ambiciosa, mas fraquinha, não se sustenta em suas próprias pernas.
Além disso, Olavo anda fazendo um trabalhinho sujo adicional, serviço aliás recompensado semana passada pela concessão da Ordem do Rio Branco, a mais alta condecoração diplomática do governo brasileiro. Na visão do clã Bolsonaro, ele está colocando os militares em seus devidos lugares. Estes se imaginavam espertos, chegando ao poder sem golpe e sem o escrutínio do voto. Vá lá que têm a vice presidência mas, fala sério, ninguém vota em vice. Eles imaginaram que iriam tutelar o Bolsonaro, que este iria dançar a marcha deles. O clã está claramente dizendo: tolinhos! Bolsonaro usou o exército a vida inteira. Para se dizer militar tendo sido expulso (reformado, no eufemismo da corporação), para receber o soldo sem fazer nada desde os 33 anos de idade, para usar o prestígio deste para chegar à presidência. As bolas aqui estão invertidas desde sempre. Bolsonaro usa os militares e não o contrário.
Tem muita gente esperando ou apostando que os militares vão, em algum momento, tomar o leme. Minha leitura é que eles já estão derrotados. Viraram os bobos da corte. Olavo os insulta, os humilha e o Bolsonaro diz que estão todos no mesmo time. Na real, o que podem fazer além de pegar o quepe e zarpar? Um golpe? A emenda seria pior que o soneto.
A grande questão deste governo é, então, se aqueles que sempre deram as cartas, ou seja, os interesses financeiros representados pelo Paulo Guedes, e o Congresso, que representa interesses um pouco mais difusos, além dos outros atores que ganharam mais relevância no jogo político, como o judiciário e a mídia hegemônica vão ficar assistindo o guru e os moleques (pai e filhos) destruírem o que restou do país ou se vão dar um jeito de botar os malucos organizados no hospício. Depende do quanto no mundo real, fora das disputas palacianas, a situação se agravar. Aí sim, talvez, estes senhores possam pedir ajuda aos universitários, ops, aos militares.

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