No Além
Quando deu por si estava morta. Não que soubesse imediatamente, mas achou tudo meio estranho e uma alma caridosa que passava por ali, vendo sua cara de perdida, lhe avisou. Aqui é o Além, minha filha. Vais ficar por aqui um tempo, fazendo estágio. Depois veremos para onde você vai. Ela mal conteve seu espanto. Fazia dois ou três dias que ainda estava trabalhando na Gávea, na casa da patroa que conhecia há vinte anos. A casa que cuidava como se fosse sua. Sabia de cada rachadura nova, cada mancha que teimava aparecer na pintura já meio antiga. Conhecia-a melhor que os próprios moradores, tinha certeza. Há dois dias estava ali ainda, meio ofegante, mas teimando em ser firme. A patroa tinha voltado de viagem na semana anterior, as coisas ainda não estavam bem arrumadas como deveriam estar e por isso, disfarçou o mal-estar quanto pôde. Já bastava a patroa adoentada. Deve ser o ar condicionado do avião, se lhe disse. Sabe como é, muitas horas. Sabia não. Esse negócio de Europa e aviã