A ultra-direita

Eu estou bem incomodada com o que tenho lido sobre o "protesto a favor" de ontem. Essa ênfase no tamanho deste em comparação com o outro está me parecendo reducionista. Fica parecendo que a questão é simplesmente ver quem consegue por mais gente na rua. 
Trazendo pra cá um dito popular de outro contexto, tamanho não é documento. Tanto que ambos os lados festejam os resultados. 
O fato que me parece mais relevante é que cidadãos escolarizados e de alta renda (em sua maioria, segundo pesquisas realizadas) tomaram gosto em se reunir com a sua galera, sair pelo rolê dominical, donos de uma expressiva superioridade moral suposta a demonstrar seu apreço pelo presidente e pelos ministros de estimação. Isso num contexto em que o dito presidente não tomou uma única medida para conter a clara decadência econômica, cultural, educacional do país que eles dizem defender. Num contexto em que os laços deste com as milícias e com velhíssimas práticas da corrupção dos gabinetes de políticos menores afloram todos os dias. Apesar de cinco meses em que o governo pareceu se resumir a um circo mambembe no Twitter, esses cidadãos depositam nesta figura tosca, obviamente limita e comprometida intelectual e moralmente, suas esperanças e sua identidade.
Foi um sonoro "me representa". Diante disso, não há como dizer que o governo saiu perdedor, lo siento. Porque obviamente é para eles que o circo está montado, é para eles que o presidente tuita o dia todo. E o gado está bem cevado, demonstrou isso com clareza.
Não houvesse essa identidade (sejam lá os motivos que a tecem), branquinho não ia tirar a camiseta amarela do armário e gritar na rua.
As consequências da existência deste exército e de sua resiliência diante das evidências de que o messias não vai salvar nada, vão depender de como os demais atores políticos e sociais responderem. Se o congresso se intimida ou se sobe nos tamancos. Se a Globo continua achando que pode controlar o fenômeno atribuindo a eles a defesa da Reforma da Previdência etc. etc.
O fato é que podemos dizer agora que, inequivocamente, temos uma extrema-direita no Brasil e que ela pela primeira vez na história recente quer ser chamada por seu nome, é orgulhosa de si mesma e ultrapassou os muros do antipetismo.

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