O cidadão de bem e o cidadão de mal



Estava eu aqui pensando em como não consigo me enquadrar na ideia do cidadão de bem. Não que tenha tentado muito, mas agora tantas coisas só lhe são reservadas que às vezes dá uma vontadinha de dar uma espiada no lado de lá do muro. Parece que são muito respeitáveis, em seus carros caros e suas casas empetecadas. Cidadãos de bem de estirpe, com gravata e capital. Morando bem, quem sabe até candidato a malandro federal; ops, deputado federal (data vênia, Chico!)
Porque todos sabem que a categoria cidadão de bem cabe a quem pode pagar por uma arma e pelo
processo de seu registro. E pode pagar por um cofre. E pode pagar por um curso de tiro. Ou seja, quem tem pelo menos R$ 10.000,00 livre de qualquer outra urgência da vida.
Aos demais, somos todos um tanto suspeitos. Se é pobre e entra num shopping fino, deve estar querendo roubar; ou exercer a inveja ou a ganância, pecados mortais. Se mora numa periferia e é preto, será o primeiro a ser parado pela polícia e revistado. Mesmo com uniforme escolar pode ser um
vabagundo/bandido escondido em pele de cordeiro. Se é mulher sempre pode ser uma vadia procurando homem ou uma louca mesmo, que a loucura é predicado feminino, coisa de hormônio. Aliás quero ver quando uma mulher de bem ousar atirar num homem que a assediar, se alguém dos que dizem que precisamos de armas para nos defender de estupradores não vai desconfiar que a dita está inventando. Se já dizem que as mulheres mentem quando só acusam um homem, imagina quando passarem a lhes matar.
Mas deixemos a coerência pra lá. Já é exigir muito.
Se não posso ser cidadã de bem, sou ser cidadã de mal. De mal com a ideia de que os problemas (tantos)
se resolve na porrada, a tiro, ou com nevoeiros ideológicos. De mal com a modinha de demitir o
pensamento, a solidariedade, a igualdade que anda fazendo esse sucesso todo aqui debaixo da linha do
Equador. Dedinhos cruzados. Realmente estou de mal.

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