Os imbecis e a internet

Tenho lido com frequência a afirmação de que essa imbecilidade e truculência que a gente vê nas redes sociais e nos comentários nos portais de notícias sempre existiram e que a internet só as colocaram na vitrine. Tipo não criou, propagou apenas.
Pois eu estou na contramão. Penso que a visibilidade que a internet e, em particular, as redes sociais dão a esse tipo de comportamento cria sim esses comportamentos. Na exata medida em que os sancionam não apenas como algo natural e aceitável mas como algo elogiável, algo a ser seguido. Essas pessoas que tinham essas opiniões, esses pensamentos mas os guardavam no fundo da sua alma ou no máximo os externavam aos familiares e amigos próximos se sentem agora legitimados, se sentem verdadeiros líderes, ou pelo menos membros da comunidade da gente de bem e dos defensores da família e dos valores cristãos. Isso não apenas engrossa a corrente como radicaliza posições. A publicidade, a sanção social do like, o número de amigos e seguidores que compartilham a mesma posição e o consequente sentimento de pertencimento criado, criam novos e piores fantasmas. Então não é apenas que a internet deu voz a uma legião de imbecis, como disse Umberto Eco. Ela criou correntes poderosas que levam de arrastão aqueles que estavam apenas no limiar possível da imbecilidade.
Criou portanto novas legiões de imbecis. É sim uma faca de dois gumes. Está aí, é uma realidade e uma ferramenta incontornáveis, mas se não atentarmos para seu potencial de fomento de totalitarismos e outros fenômenos horripilantes de massa, vamos virar espectadores inertes, balbuciando como éramos felizes e não sabíamos. (dez/ 2017)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

As mulheres não estão se comportando bem

Bolsonaro tem jogado xadrez e nós, jogo da velha