A sala de jantar

Excursionando virtualmente dentro das casas e apartamentos da classe média alta curitibana (estou procurando outro lugar pra morar) percebi que estes dizem muito dos seus proprietários enquanto agrupamento social (pra não dizer classe). Sua tosquice política é só uma pequena parte do conjunto da obra.
A noção do que é de bom gosto, chique é bastante limitada e controversa. 
a) Todos os imóveis têm sancas de gesso. O must é o teto rebaixado com iluminação embutida. Quanto mais curva e rebuscada essas sancas forem, mais chique é. Mesmo em cômodos de 10 m2, o que os torna claustrofóbicos (de onde sai essa referência destas malditas sancas, está nas novelas?)
b) pisos de porcelanato bege é outra unanimidade. Ou pisos laminados que imitam madeira. Preferem retirar pisos originais de parquet para substituir por esses laminados ou porcelanatos. Creio que porque estes são homogêneos e teoricamente não riscam. O legal é ter um apartamento de 10 anos com cara de que saiu ontem da construtora, com tudo novo e brilhando. A classe média tem horror à passagem do tempo e principalmente à sua demonstração. Tem cara de decadência.
c) Os móveis são um capítulo à parte. Aqui abundam 2 tipos. Releituras do estilo clássico (tipo francês do século XVIII). Cópia da cópia da copia, desde que pareçam suntuosos. Ou móveis planejados. Aqueles que compram em projetos "personalizados" nas boas casas do ramo.
d) Os imóveis estão abarrotados de armários. Quanto mais armários planejados, mais valioso o imóvel. As imobiliárias chegam ao requinte de priorizar estes nas fotos em detrimento da área do apartamento/casa. Pessoas que gostam de comprar e acumular coisas. Principalmente roupas e sapatos.
e) Belos prédios modernistas do final dos anos 60 e 70 (que deviam ser tombados porque são os últimos de boa arquitetura antes do advento das colunas greco-romanas do neoclássico que grassa hoje) estão sendo depredados por seus moradores. Dois exemplos gritantes: o Edifício Itamaraty que tinha pastilhas amarelas e colunas de concreto aparente, foi reformado recentemente e a fachada foi remodelada. Azulejos bege e as colunas cobertas por textura igualmente bege. O Edificio Mikare Thá, expoente da corrente brutalista dos anos 70, está sendo "modernizado" pelas indefectíveis sancas neoclássicas nos espaços internos.
Por último, mas talvez o mais importante e simbolicamente avassalador, não se vê livros. Praticamente nunca, jamais (menos 0,5% de minha amostra).
Ou seja, a classe média curitibana (brasileira?) é cafona, pretensiosa, consumista, sem referências culturais universais e iletrada. Suas casas são o espelho do que são.
Só podia dar no que dá, né? (dez/ 2017)

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