Renúncia já



Não é possível prever a dimensão do impacto que a epidemia causada pelo corona vírus terá sobre o Brasil. Mas é certo que o dano será profundo, desagregador. Muitas pessoas irão morrer. De covid -19 e também de outras doenças, pois o sistema de saúde estará esgotado e milhões de pessoas totalmente desassistidas.
Quase todos os quarenta milhões de trabalhadores informais perderão suas rendas. Os trabalhadores formais não estão em muito melhor condição. Segundo dados de 2017 do IBGE, metade da mão de obra formalizada no Brasil trabalha em empresas com até 5 empregados. São pequenas empresas. Quantas vão sobreviver a uma crise aguda que pode durar até julho ou até setembro segundo previsão do próprio Ministério da Saúde? Juntemos a essa conta os quase doze milhões de desempregados.
Formas variadas de desespero levarão ao caos e à morte. Diferentes formas de morte.
Numa pandemia em que isolamento ou distanciamento social e medidas de higiene são o cordão de contenção, o que será das pessoas para as quais essas medidas são impossíveis? O que será das pessoas para quem o álcool gel e mesmo a água corrente é um luxo inalcançável? O que será das pessoas cujas casas não podem abrigar todos ao mesmo tempo? O que será das quase 500 mil pessoas que estão em presídios por pequenos delitos ou ainda sem julgamento?
Se na Itália em que as medidas recomendadas pela OMS são possíveis de serem observadas pela maioria da população as pessoas estão morrendo como moscas, imagine o que será no Brasil, um dos países mais desiguais do planeta. Um dos países mais carentes em saneamento básico e habitação. Um dos países mais desescolarizados. E certamente, entre as chamadas grandes democracias, o que tem o governo mais canalha.
O fato é que nosso país provavelmente vai passar por um dos piores momentos de sua história, senão o pior, e não temos na presidência uma pessoa minimamente capaz de nos liderar. Mais que isso, não temos um governo capaz de governar. Se as grandes crises, as grandes hecatombes sociais já são difíceis de serem superadas quando há um Estado confiável, quando o governante é minimamente capaz, como será aqui entre nós, desgovernados por uma pessoa ensandecida, um canalha, um monstro moral, um monstro tout court?
Por tudo o que Bolsonaro já fez e por tudo que ele ainda fará se continuar presidente, o tempo para nos livrarmos dele urge. Ele representa e promove a morte. A pandemia acelerou o tempo e nos levou a outro patamar de necessidade. A outro patamar de emergência. Não se trata mais de defender apenas a democracia, a institucionalidade, a República. Agora se trata de defender as nossas vidas e as de milhões de nossos contemporâneos.
Não podemos mais defender o impeachment, fomos atropelados. Temos de exigir sua renúncia.
Agora, ontem. Não dá mais. Vai custar vidas.


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